Blonde

Por Roberta Bonfim

Você sabe quem é Norma? hihihi…Começo dizendo que sempre gostei bastante de Marilyn Monroe, pois ela era linda, sorridente e geminiana, mas gostei um tanto mais de Norma, porém como dois e dois são quatro Norma não é tão socialmente fácil de ser aceita, ao tempo que sua beleza veste Marilyn, sua personagem, que de tão potente apagou Norma, que não deu conta e acabou o que sua mãe começará em sua infância conturbada.

Tá entendendo algo ou nada? Serei mais direta, aqui falo sobre minha novas percepções sobre figuras públicas da história do mundo como Kennedy o presidente dos Estados Unidos, o filho do Carlitos, e Marilyn com seus diamantes. E mais uma vez as narrativas predominantes, que sombreiam outras versões da mesma história, ou mesmo outra história para o mesmo recorte. O fato é que o filme Blonde que tem no quadro de produtores Brad Pitt é ousado ao expor o lado B de algumas personalidades emblemáticas. Com direção e roteiro (baseado em romance de Joyce Carol Oates) de Andrew Dominik também responsável por O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford

O diretor nos apresenta Norma da infância, passando pela criação da Marilyn e seguindo até a morte de Norma, já que Marilyn está inquestionavelmente eternizada, seja por ter sido tratada como produto, ou por abrir portas fundamentais para o lugar que mulher que hoje habitamos, seja por seus ambientes contraditórios e sua extrema solidão, ou pelos remédios e álcool que vão ganhando protagonismo a cada nova agressão da vida e ela não sofreu poucas. O filme que faz transições de cena incríveis entre o preto e branco e coloridas e mesmo efeitos mais modernos como na formação dos fetos, na fotografia que entusiasma e cortes certeiros, que quebram as emoções e deixam clara a extrema adaptabilidade e potência de Norma, que poderia apenas sobreviver, ou mesmo ter aceito a morte na infância, mas ao contrário, estuda e caminha para interpretação, busca caminhos, mas sua extrema beleza abre mesmo outras portas e a leva a sofrer algumas diversas agressões, que são fundamentais, ao meu ver que sejam reveladas, mesmo que não se trate do recorte certeiro, é a percepção de outras narrativas e o levantar questões fundamentais, como a exploração por parte do estúdio, a extrema fraqueza e fragilidade desta mulher que nitidamente tem um questão de saúde mental a tratar, penso que a bipolaridade ou uma extrema consciência de si, ou disponibilidade para que se construísse e fortalecesse esta persona que acabou por engoli-la.  

Link trailer https://youtu.be/AUfiFWUSp7k 

Norma/ Marilyn são majestosamente interpretadas pela cubana Ana das Armas, o elenco é todo incrível, na realidade. O que pessoalmente mais gosto são as quebras emocionais que vêm de vários modos, na dramaturgia, mas também no jogo de câmeras e edição, a edição é uma chave mestra na obra, que tem um traço que amo, o da narração.Vale muito assistir e fomra sua própria opinião sobre o filme inspirado na obra homônima escrita por Joyce Carol Oates, a Professora da Universidade de Princeton, membro da Academia Americana de Artes e Letras, e responsável por contar a trajetória de Norma Jeane Baker, conhecida como Marilyn por todo o mundo.

O filme dos prazeres ou o livro que eu não li de Clarice. 

Esse texto contém o relato de uma terça-feira. Tem esse “uma”, artigo indefinido, porque neste momento não irei procurar as datas e me confundo se foi semana passada ou retrasada. De todo modo, o fato não tão importante é que era uma terça-feira. Após as tentativas falhas de ir pra casa, seja de moto, de ônibus ou de carro, resolvi ver um filme e aceitar o fracasso do ir. Algo que sempre foi complicado e desesperador para mim, se tornou muito fácil com o passar dos anos, o desistir. O filme era “o livro dos prazeres” e por estranho que pareça, não, não me remeteu automaticamente a Clarice. Honestamente, na hora pouco importava sobre o que era, o que ficava na minha cabeça era o que eu faria pra ocupar meu tempo e voltar pra casa o mais rápido possível após desistir.

Com pouca ou nenhuma expectativa assisti. 

Curiosamente, os 10 primeiros minutos do filme são um silêncio. Isso já foi o suficiente para me atormentar e deixar reflexiva na cadeira do dragão. Para alguém que estuda escutando música, trabalha escutando podcast, limpa a casa assistindo série, esses 10 minutos sem palavras foram, no mínimo, atípicos. Inicia-se então uma exploração de uma personagem que eu não sei se conseguiria conversar por esses 10 minutos, alguns takes clichês e uma estética que agrada, mas ao mesmo tempo é como tudo que já vi. O rapaz de medianeras me deu calafrios pelas lembranças de encontros ruins que não resultaram em nada além de crises, com suas frases quase prontas e conversas misteriosas. A atuação de Lori me fez lembrar como é bonito ficar sozinha, mesmo que não seja bom às vezes. Fiquei pensando como seria se fosse possível gravar as solidões alheias para observar. Se minha solidão barulhenta renderia um filme, talvez colocasse no mudo. Das falas que me prenderam ao filme: “em nome da lógica dos sentimentos”. Essa definitivamente mexeu com algo aqui dentro, o suficiente pra eu pensar tal qual uma jovem da geração Z e decorar para colocar como biografia do Instagram. Finaliza com “adaptação livre do livro”. Polêmico. Ou talvez não também.

Sai sentindo que foi um filme péssimo pelos clichês visuais. Até me bater uma melancolia esquisitissima que me acompanhou todo o caminho de volta pra casa. Até estar na moto e querer que meu silêncio fosse filmado. Até me deitar no chão do quarto e ficar lembrando dos detalhes de consciência corporal da protagonista. Até ficar em silêncio por mais de 10 minutos. 

Não vou te prometer que é um filme incrível, pelo contrário, talvez seja uma experiência horrível pra você. Mas por hora, fica aqui o relato de uma terça-feira, de um livro que eu não li ainda e de um filme que me rendeu o prazer de ficar na melancolia.

Dois anos de artevismo

Bem no comecinho da pandemia que ainda nos assombra, recebi um convite para abraçar um Lugar que respira cultura, afeto, arte, talento e coragem.

À época, minha família – como tantas – passava por uma tempestade que culminou na perda da minha única irmã para a Covid-19, o que me levou a adiar o “Sim”.

Meses mais tarde, em ato de resistência, publiquei o primeiro texto mensal. Hoje trago o vigésimo quarto, uma comprovação de que vida é energia e partilha.

Nesses dois anos, dividi com queridos leitores e leitoras minhas angústias e regalos. Tento provocar alguma reflexão e alertar para a importância de aprender a lidar com o sofrimento. A temática varia conforme o momento: ora triste, inconformada e revoltada; Ora alegre, resignada e paciente.

Já escrevi sobre as pequenas inutilidades que nos sustentam; Que devemos encarar os desafios com seriedade; Da obrigação de respeitar pensamentos divergentes; De recomeçar, apesar dos infortúnios; Sonhar o impossível; O direito de manter a casa em desordem; Que a luta feminista gera um mundo mais justo; De cuidar de quem padece; Não negar a própria dor, mas sim evoluir a partir dela; Valentia para desistir do que não faz mais sentido; Participar de algo que beneficie a coletividade; Entregar-se a memórias leves quando o presente estiver muito pesado; Julgar menos é sinal de maturidade; Insistir na esperança ativa; Aproveitar as boas surpresas; Priorizar-se nem sempre é egoísmo, é preciso fortalecer-se para amparar o outro; Praticar o desapego faz um bem enorme, uno e plural; Esperançar de novo e sempre porque o dia mais potente – e feliz – ainda virá; Inspirar-se na força do amor; Aceitar o envelhecimento é florescer; Do perigo de conviver apenas entre iguais; E que as mudanças são necessárias e inevitáveis.

Renovo hoje votos de amizade e gratidão com o nosso ArteVistas pela oportunidade de falar livremente acerca das minhas próprias vivências, e torço que elas possam ser úteis a alguém.

Ainda há caquinhos espalhados, o mosaico não está completo e nem sei se estará um dia. De certeza mesmo, só o desejo de seguir, de cultivar o riso e o convívio.

eu, nu, guarda-roupa.

Preciso morrer para escrever tudo que habitava em mim. Tudo que me percorria nas vestes que precisei despir e sentir meus cheiros. Me olhar de longe e entender a presença das calças que me vestiram e todos os sapatos caminhados com os solados desgastados. As minhas roupas ficam e vão ficando conforme o tempo passa e elas não me cabem mais. Esse corpo que se modifica a cada dia e que preciso morrer no fim de todos esses para me entender. Precisei deixar percorrer em todo o nu, o tecido das memórias de dor e afeto para enfim me trancafiar num guarda-roupa visto por poucos. E nesse deixar sentir me faço loja e me vendo como as peças em promoção.

Oi sou eu aqui de novo. Nos últimos anos eu tenho me permitido estar em imagens… Sempre me intrigou existir com esse físico, algo que sempre sinto que não me pertence, sempre me sinto que estou no receptáculo errado, sempre sinto que não preencho correto. É muito difícil ser eu … Talvez isso seja redundante, talvez seja óbvio, talvez seja… Talvez você esteja lendo sobre um eterno personagem e nem perceba… Talvez eu esteja mentindo isso tudo aqui, apenas para te ludibriar com minha falácia mansa e charmosa… Talvez nunca seja.

Mas uma coisa eu posso te assegurar que é verídica, planos de fundo nas tonalidades de azul agridem menos meus olhos. AH! Posso dizer outra verdade aqui, – Meus olhos são tão afiados a luz, que num completo breu eu posso ver teus ossos querendo me abraçar –

Adoro olhar o pôr do Sol

Onde vou estar agora

Eu seleciono bem as flores que vou usar, tiro galhos, sementes, e restos de folhagens… Com uma tesoura vou cortando pétala à pétala cada flor dentro do potinho … É um processo calmo e paciente que nem toda pessoa está afim de fazer, mas que para mim sem isso não faz sentido, preciso fazer essa ação até enxergar vários flocos verdes e cintilantes …

O perfume toma de conta do espaço, exala um cheiro de chuva com limão. Rapidamente me sinto um tamanduá socando seu nariz em um formigueiro profundo, farejando cada cheiro suculento para saciar seu desejo. Aquele perfume entra nos buracos do meu nariz com uma sensação adstringente limpando as estradas neurais de meu cérebro.

Pego uma seda, derramo todas as flores picadinhas nela, espalho com leveza. Minha mãe de santo sempre me diz que um padê jamais deve ser sacudido, deve ser organizado com as mãos. Meus dedos prontamente organiza aqueles pequenos flocos, verdes, aveludados, cristalizados, cintilantes; aquilo é um presente para mim e para mais ninguém então tem que ser bem feito.

Segundos depois já lanço aquele pequeno torpedo carregado de terpenos pressionados, aglutinados esperando serem eriçados para soltarem seu esperma quente e grosso em meus pulmões… um gozo que jorro na minha boca, risco o isqueiro e vejo a brasa se formar. Baforo devagar, arejo os pulmões, aterro a cabeça. Gozo em fim…

Fim … ?

Meu sonho era conhecer Moraes Moreira…

Antigo normal: nunca mais

Rifa-se antigo normal de uma vez por todas.

Quarenta minutos de faxina na mesa de centro espelhada – com gavetões e nichos –, abarrotada de objetos e livros intocáveis de capa dura.

Costas arrebentadas de tanto arrastar dois trambolhos de madeira maciça, vulgos “mesinhas de cabeceira”, para tirar o pó acumulado.

Armário inflado de roupas, sapatos e bolsas que nunca serão repetidos ou até mesmo estreados.

IPVA caríssimo para rodar menos de mil quilômetros por ano, sem contar os gastos com combustível, estacionamento e manutenção.

Horas no trânsito caótico para ir à padaria ou mercadinho do bairro, em vez de usar as passadas ou pedaladas saudáveis.

Caminhadas na esteira em ambientes fechados, morando em uma cidade plana, que transborda sol, brisa, parques ecológicos e calçadões que beiram o verde mar.

Carimbos no passaporte para destinos turísticos da moda, com suas superlotações que sufocam a alma do lugar, cultura e estilo de vida dos moradores.

Festas para ver e, principalmente, ser visto.

Amizades às pencas que não se importam um tiquinho com o outro.

Cozinha meia-boca de restaurantes e bares caros, e filas gigantescas dos recém-inaugurados.

Lamentos por desgraça pouca, como a xícara de estimação quebrada acidentalmente.

Felicidade incessante, também conhecida como alienação, demência ou ingenuidade.

Diversão com filhos|netos no parquinho climatizado do shopping, quando se tem quilômetros de orla urbanizada, com quiosques, academias a céu aberto, parque infantil, quadras de vôlei e tênis de praia, anfiteatro, ciclovia, pista de cooper e de skate. Sim, é seguro.

O medo de andar nas ruas e se apoderar das calçadas e praças.

Carros estacionados nas ciclofaixas ou nas vagas prioritárias “só enquanto” pega o filho|neto na escola.

O pouco de tolerância que ainda resta para ouvir fofoca, maledicência e desinformação, como as criminosas fake news.

Por fim, como perfeição e santidade nunca fizeram parte dos meus planos, excluem-se da rifa laivos de arrogância que, porventura, alguém detectar nessas prendas.

1101

Por Roberta Bonfim

Não sei como isso acontece com você, mas por aqui tem sido um doce, mas nem sempre, fácil, na real é normalmente bastante conflituosos e contraditório, mas repleto de amor e risadas, esses 1101 dias em que sou para além de mim mesma, o que por si já me é bem trabalhoso. O fato, é que a exatos 1101 dias sou mentora de um ser, responsável pelas suas memórias fundamentais, necessidades básicas e alguns excedentes.

Como ela completou 3 anos neste mundo no dia 25 de janeiro, vou aproveitar esse espaço para escrever para ela, vai que um dia ela se esbarra com esse texto e sorrir. Espero também que você que por aqui chegou, sinta brotar no canto da boca um doce sorriso discreto de quem espia o amor pela brecha da porta.  

Faz 1101 que chegou no mundo você, chegou silenciosa, mas logo disse a que vinha e lançou sua voz no ventre do mundo, alertando ao mundo todo que você chegará. Chegou descamando, não queria sair da barriga e eu queria respeitar seu tempo. Chegou já mamando, já sorrindo, sem qualquer dificuldade me reconheceu. Me olhou nos olhos tão profundamente, que estou certa que naquele momento nossas almas se abraçaram fortemente entendendo que dali pra frente eu só poderia tá contigo, mas nunca, em absoluto ser ou estar em você, como você também daquele momento em diante não estaria mais em mim. E assim seguimos.

Você se alimentou de mim por quase três anos, mas preciso assumir que também me alimentei de você ainda me alimento, do seu amor, sorriso, me alimento da sua alegria, do seu carinho. E até das birras quando respiro e lembro do tanto que ainda temos para aprender. E te agradeço por ter escolhido a mim e a nossa história, para ser a sua história ou o seu caminho das paragens daqui. Te amo filha, amo ser sua mãe, amo te chamar de minha filha, amo quando me chama de minha mãe e não há qualquer relação com posse é só identificação de linhagem. Grata meu amor.

E se você veio até aqui, te convido a amar mais, sorrir mais e compartilhar afetos e arte por onde estiveres.