Acervo pessoal.
Valmira (depois Janaína), negra,
colecionou involuntária preconceito
e assédios desde a infância.
Não muito amada pelos poucos familiares.
Autoestima em falta na prateleira.
Cresceu, resistiu, veio sorte, obedeceu com inteligência
às oportunidades boas. Os segundos namorados
lhe deram mais respeito e amor;
seu marido pontuou ainda melhor que eles.
Em resposta, ou encomenda, ela conseguiu revestir a
sensação de descartável com a habilidade de amar.
Se houve dependência emocional no trajeto,
é verossímil que as pedras nos rins não
tenham crescido mais que o cérebro.
Emprego bem-sucedido como atriz e cantora.
Aparecia nas mídias.
Sucesso de público basicamente.
Teve consolos materiais e sempre falou
em favor das pessoas negras, contra o racismo e a pobreza.
Um dia, morreu,
deitada sobre uma fileira alta de décadas,
ignorada pela mais recente crise de insônia da bolsa ou da Monsanto.
Acervo pessoal.