Gosto muito do exercício de revisitar meus antigos escritos para conferir se minhas ideias evoluíram de alguma forma.
Escolhi dessa vez um texto de forte valor afetivo que inspirou o título da coletânea de crônicas e outras narrativas [“Viver, Simplesmente”], lançada em 2016, mimo da minha editora pelo meu ingresso na chamada terceira idade.
Trata-se de tema espinhoso – a morte – abordado bem antes de vivenciarmos uma das maiores tragédias sanitárias do planeta que dizimou mais de seis milhões de pessoas no curto espaço de dois anos, o equivalente à população todinha do estado de Goiás, sendo o Brasil o segundo país com mais mortes por Covid-19 no mundo, atrás apenas dos EUA.
Transcrevo a seguir alguns trechos:
“Viver desapegadamente para não sofrer com afastamentos ou viver intensamente e sofrer – mais intensamente ainda – com os afastamentos inevitáveis? Fiz essa pergunta dia desses para alguém bem próximo e a singeleza da resposta me surpreendeu: ‘Viver, simplesmente’.
A Tanatologia, ciência relativamente nova que estuda a nossa relação com as perdas – incluída aí a mais traumática delas, a morte –, afirma que o sentimento ou ‘luto’ causado pelo desaparecimento de um ente querido – potencializado, quando em caso de mortes prematuras – lidera a lista dos maiores sofrimentos de grande parte da humanidade. Mesmo para os que afirmam crer na eternidade da alma, a dor da perda – de um filho, por exemplo – é insuportável e, muitas vezes, insuperável.
Não me sinto imune, e também não escondo o medo, mas gostaria muito de aprender a encarar a morte da forma mais natural possível. Aceitar que tudo se acaba, que nada é para sempre”.
Tanta coisa vi e vivi nesses últimos dois anos, perdas, decepções e sofrimento. Mas descobri também solidariedade e compaixão. Assim como o corpo, a mente acumula rugas, flacidez e manchas. Envelhecer, contudo, pode ser bastante positivo, na medida em que traz maturidade e aceitação. É remoçador perceber que não sou mais a mesma pessoa de anos atrás, que adquiri novos valores e passei a enxergar o mundo sob outros prismas.