Vocação materna sempre foi uma fonte inesgotável de inspiração para as mais diversificadas linguagens literárias, artísticas e culturais, responsáveis por um acervo “simplesmente” incalculável de obras sobre a sublime condição que pariu todas as civilizações conhecidas.
É impossível, portanto, pensar esta condição materna como se fosse uma condição apenas para as mulheres que possuem útero. Mas é possível pensarmos esta sublime condição a partir da subjetividade de cada uma de nós.
Minhas gestações, por exemplo, foram os períodos que mais me amei! A mágica da vida acontecendo dentro de mim… uma benção, um privilégio e um desafio, sem dúvida alguma. A mistura mais louca de sentimentos e hormônios.
Sentir meu corpo mudando para abrigar outro ser, não teve preço, mas teve enjoo, azia, fome, desejos, refluxo, medos e muita ansiedade.
O canal lacrimal também funcionou com mais facilidade… bastando passar um comercial de margarina na TV para desencadear o choro.
Agora, teve muito mais mimos, carinhos, cuidados, ânimo (sim, eu fui uma mãe/grávida cheia de disposição!)
O sono que a maioria das mães sentem, não veio no meu “pacote gestacional”. Talvez por isso, meus filhos durmam tão pouco… mas isso é outra história.
E beleza, é claro! Modéstia à parte: fui uma grávida muito bonita! E sabe qual a razão? Eu estava completamente feliz e apaixonada pela ideia de ser mãe. Passei os meses da gestação em pleno estado de graça. Lógico que, na gravidez do caçulinha, esses sentimentos só apareceram depois que me recuperei do susto. Afinal, outra gestação, 16 anos depois, não é brincadeira, não!
Amava estar grávida, sentir nossos corações pulsando juntos, nosso vínculo cada dia mais forte… os chutes que me acordava na madrugada, quando eles não gostavam da posição que eu dormia… E até os soluços que faziam meu ventre pulsar…
Gestações completamente diferentes: na gravidez do João Pedro, fiz massagens, hidroginástica, ioga, curso de gestante… na segunda gravidez do João Vítor, foi o que podemos chamar de “selva”… Enfrentamos uma reforma em casa e todo caos que vem no pacote. E, acreditem, foi a melhor coisa que fizemos. Nosso ninho ficou maravilhoso para recebê-lo.
Ah! Como autocuidado, fiz acupuntura: foi o que me manteve sã durante todo esse período de mudanças.
Ok! Falei da MINHA gestação. Mas, muito antes de gerar meus filhos no útero, eles foram gestados, desejados e ansiosamente esperados na minha cabeça, no meu coração e na vontade de ser mãe, que me acompanhou desde criança, brincando de boneca e mais tarde, quando me percebi como mulher e com essa possibilidade.
Não mais importante do que as mulheres que gestam seus filhos no desejo e no coração. Porque, muito mais que um útero, para SER mãe, é preciso primeiro QUERER ser mãe. Uma mulher para ser mãe precisa ter o “chip” da doação, da entrega, da resiliência, da paciência e do amor incondicional.
Precisa ter o desejo de cuidar, proteger, educar, ser modelo, incentivar, conduzir, orientar, nos primeiros anos, e amar, ser colo e abrigo, o resto da vida. E isso não vem com o útero.
Nasce um filho, mas nem sempre nasce uma mãe… Mãe, a gente aprende a ser na caminhada desafiadora do maternar.
E assim, de mãe em mãe, com suas características e peculiaridades, caminha a gestação da humanidade.
