“Qual o dia mais feliz da sua vida?”. A pergunta vaga aparece nos minutos finais da minissérie que assisti numa plataforma de streaming nesse quase feriado momino.
Mas foi a resposta encantadora da protagonista que não me saiu da cabeça: “O meu dia mais feliz ainda não aconteceu”.
O fato de a personagem ser bastante jovem talvez explique o mundão de felicidade que a espera, mas é animador acreditar que o dia mais feliz ainda está por vir.
Na minha já extensa jornada, eu poderia listar facilmente vários mais felizes dias – e também mais tristes –, mas vou me ater a uma amostra dos primeiros.
Começo pelas férias juvenis na praia do Pecém, quando minha mãe nos incentivava a convidar duas ou três amigas. Passávamos o dia inteiro naquela imensidão branca de areia e dunas: banhos de sol e mar pela manhã, esquibunda e vôlei à tarde, e luarada ao anoitecer, com ou sem lua.
Incluo na trilha feliz a aprovação no vestibular; um universo extraordinário despontou para a menina de 17 anos que se sentiu, de repente, adulta.
A primeira colação de grau e a largada de dois corações apaixonados e entrelaçados em sonhos e aventuras, ocorridas ambas ao mesmo tempo, trouxeram alegria e exigiram mais responsabilidade.
A recompensa primeira do primeiro trabalho na área escolhida.
A emoção mais intensa que nunca acaba: o nascimento dos filhos e, décadas mais tarde, a chegada dos netos.
O dia tenso e feliz do desembarque com minhas crianças em outro país para uma prolongada estadia. Tudo o que eu aprendera até então seria desconstruído e reconsiderado. Foi como nascer de novo.
A inauguração do refúgio sertanejo em virada de ano, com nossa familinha, meus saudosos pais e mais gente querida.
As celebrações por qualquer motivo com amigos e amigas.
Os lançamentos dos meus livros que encerram longos períodos solitários de criação.
Acrescento, por fim, a partilha de conhecimento, afeto e senso de coletividade em ambientes culturais e literários que resultam, entre outras ações, na doação de pequenas bibliotecas a comunidades.
Que o nosso dia mais feliz esteja sempre por vir.
Em tempo: A quem interessar, a minissérie de dez episódios a que me referi está na Netflix e chama-se “Maid”.